quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quadradinho de 8!

To meio de bode com as críticas e as tirações de sarro com as meninas do Bonde das Maravilhas... inclusive compartilhei um texto sobre isso (muito bom, por sinal,  vejam no portalgeledes) no Facebook.

Acho que tá rolando uma certa hipocrisia,  obviamente ligada a questão moral que essas danças sempre geram, independente do estilo musical, mais a patrulha musico-boba que o funk carioca tem enfrentado (e que, na boa, já encheu mais o saco do que o próprio funk!), e, por fim,  os componentes mais perversos: o machismo e o racismo!

Sim, senhoras e senhores auto-considerados liberais, desencanados, etc. Cada postagem dizendo impropérios sobre as meninas vem carregado de machismo, na medida em que segue a triste tradição de dizer qual a roupa, qual a dança, qual o código de conduta da mulher "decente". Racista porque esse código de conduta é mais cobrado das mulheres negras, como se elas tivessem a obrigação de serem as detentoras do cetro da moral e dos bons costumes!

A questão moral é relativa e subjetiva. Cada um tem seu limite do que acha que pode ou não,  do que é imoral ou não.  Se você não quer que sua filha, esposa, irmã,  sobrinha e etc., façam quadradinho de 8, simples,  interrompa o acesso (óbvio que nos casos das dançarinas forem adultas, convém diálogo né...), exerça seu direito de consumidor/ ouvinte/ telespectador e boicote.

A hipocrisia também não cabe porque essas garotas não inventaram nada! O Brasil tem uma tradição em explorar a imagem das mulheres bem antiga. Na década de 40 e 50 com as vedetes, nos anos 70 com Gretchen e Rita Cadilac,  noa anos 80 com as Chacretes e "Mulatas" do Sargentelli, nos anos 90 com as dançarinas de axe e nos anos 2000 com as panicats e mulheres fruta.  Portanto, infelizmente,  a tradição é longa.  Isso sem contar a produção de filmes e revistas eróticas. Ou pode todo mundo, ou não pode ninguém! Ou mandamos todas pra fogueira,  ou deixamos as meninas em paz!

Para as mulheres,  devo dizer que segregar e crucificar as meninas abre precedentes perigosos que,  historicamente, se voltam contra vocês mesmas mais tarde. Aos homens,  bom...rapaziada... se tem pra vender... é porque tem quem compre...

Mais ainda,  o que o Bonde das Maravilhas e outros e outras artistas do funk carioca dizem, não é nada diferente do que artistas como Beyoncé (a americana), R. Kelly ou Lil'kim também não tenham dito e se a subjetivissima qualidade musical é a desculpa pra aturar a obscenidade dos gringos e detonar a nossa, quer saber?  Nem é taaaaaaanta qualidade musical assim!

Na boa,  o que o Bonde das Maravilhas faz é o que muitos homens no pagode fazem, muitos brancos no "sertanejo universitário" fazem, e muitos artistas americanos fazem e ficam milionários fazendo: música pop, comercial,  com apelo sexual. As meninas não podem, a meu ver,  porque são brasileiras,  negras, mulheres e cantam funk carioca... eu não gosto, não curto, tão pouco consumo,  mas sou a favor de que deixemos o Bonde passar...